A IMBR Agro está preparando postagens especiais entrevistando diferentes pessoas que ou impactaram positivamente em nossa trajetória, ou possuem uma experiência interessante dentro do agronegócio e inovação. Para a postagem de hoje, a IMBR Agro entrevistou o Prof. Dr. Marcos Fava Neves (MFN), que nos aconselhou em diferentes oportunidades ainda quando estávamos começando nossa jornada como empreendedores e montávamos nossos primeiros protótipos de MVP.
O Prof. Marcos é especialista, com experiência internacional, em planejamento estratégico para o agronegócio. Atualmente, é docente da FEA-RP/USP e da EAESP/FGV, além de ser analista econômico e conselheiro estratégico de diferentes empresas e instituições que atuam no agronegócio. Também é reconhecido por seu trabalho como “Doutor Agro”, onde cria diferentes conteúdos falando sobre os elos do agronegócio nas redes sociais.
A entrevista foi conduzida por Hernan Angulo (HA), um dos founders da IMBR Agro.
HA: Professor, além de toda sua experiência estudando e pesquisando o agronegócio mundial, o senhor também atua como analista, pesquisador e conselheiro estratégico de empresas e instituições no Brasil e no mundo. Com a sua percepção e participação dentro de um setor tão importante para o nosso país, como que você avalia os movimentos de inovação tecnológica no Agro brasileiro? Você acredita que o nosso país está se posicionando como um dos líderes mundiais da inovação da mesma forma como se tornou um dos líderes da produção mundial de alimentos?
MFN: Sem dúvida nenhuma o Brasil, no agro, é um celeiro de inovação em diversas áreas, tanto em startups, quanto na questão genética, ou até nas questões administrativas e estratégicas. Por esse setor ser extremamente importante no Brasil, temos um conjunto grande de talentos e cérebros, e se percebe muitas inovações do agro sendo criadas aqui.
Esse é um ponto que eu tenho ficado surpreso de ver: a geração de novas empresas de tecnologia; fazendas brasileiras que são muito mais tecnológicas e têm gestão muito superior às fazendas do meio-oeste dos Estados Unidos ou da Europa – o que não era a realidade há 10 ou 15 anos atrás.
Além disso, nossa juventude enxerga o agro como algo moderno, algo relevante, o que eu não vejo como fato nos Estados Unidos e na Europa, o que faz com que as pesquisas, as universidades, os centros de inovação, os alunos de graduação ou pós-graduação, ou seja, todo mundo está buscando fazer inovações para o agro. Então, dessa maneira, eu acredito que sim, nos estamos entre os principais, se já não estivermos liderando, o grupo dos países que mais gera inovação para o setor.
HA: Quais são os dois principais gargalos que você acredita que travam a disseminação de novas tecnologias no campo brasileiro hoje? Por quê? E você acredita que esses gargalos serão resolvidos ou se manterão persistentes daqui 10 anos, como são hoje?
MFN: Eu diria que muitas vezes os gargalos estão ligados, primeiro, à complexidade da nova tecnologia – senão ela conseguiria avançar de maneira muito mais rápida; e o segundo ponto estaria ligado ao comportamento do produtor, que ainda em muitos casos é um comportamento avesso à inovação, avesso àquilo que ele não conhece bem, e tentando repetir o que sempre fez – mesmo que de maneira bem-feita – ignorando as questões das inovações que estão sendo colocadas no mercado. Então eu diria que são a complexidade e a falta de vontade que muitas vezes evitam e travam uma disseminação mais rápida de novas tecnologias.
Esses gargalos serão resolvidos, até porque quem não quiser inovar vai ficar de fora. Daqui 10 anos eles estarão muito melhores do que hoje, e até ressaltando o grande papel do cooperativismo e do associativismo para fazer essas tecnologias chegarem de maneira muito simples para os produtores usarem, e até mesmo criando essas tecnologias para, e com, os produtores.
HA: Recentemente o senhor lançou em seu canal do Youtube um vídeo (clique aqui para assisti-lo) onde elencou 10 tecnologias que o senhor considera que serão as mais impactantes para o agro nos próximos anos. Uma das grandes dificuldades que o nosso agronegócio enfrenta está no acesso e disponibilização de recursos financeiros para o campo, por exemplo, em linhas de financiamento, crédito e seguro rural, apesar até do considerável auxílio do governo com subsídios a esses instrumentos.
Pensando na solução da IMBR Agro, utilizando Big Data para analisar e gerir os riscos sistêmicos da agricultura com o tratamento de dados agrometeorológicos e mercadológicos, e nas outras tecnologias que você elencou em seu vídeo, como você enxerga o impacto dessas inovações para o financiamento da atividade rural?
MFN: A tecnologia e a solução da IMBR Agro são muito legais, conheço já há bastante tempo, e o uso dos dados agrometeorológicos e mercadológicos para identificar e gerir riscos é extremamente importante porque o crédito, por exemplo, está muito ligado à questão do risco. Se você consegue medir, antecipar e mitigar os riscos, a disponibilidade de crédito ficará maior.
Esses pontos são muito importantes hoje para que você consiga tomar ações preventivas, porque assim como as atividades agrícolas se tornaram mais complexas, os riscos também aumentaram em complexidade, então os custos [de transação das operações] também ficam mais altos. Então é preciso estar atento a todas as variáveis possíveis dentro da atividade agrícola para que o setor possa tomar as melhores decisões.
HA: E por último, professor, em suas redes sociais você sempre expõe diversas oportunidades para profissionais e empresas do agro estarem ligadas, e está sempre se envolvendo em eventos e discussões sobre o estado da arte do agronegócio mundial. Qual conselho você deixaria para um jovem empreendedor, ou uma nova startup, que está começando a trabalhar dentro do agronegócio brasileiro, que você gostaria de ter ouvido no começo de sua carreira?
MFN: Para os jovens empreendedores e para as startups que estão sendo criadas, o mais importante é sempre ser orientado pela demanda, sempre ser orientado para resolver problemas. Para isso, é interessante você desenhar toda a jornada do produtor, a jornada das cadeias do agro, e olhar onde que existem ineficiências que poderiam ser resolvidas com uma inovação, com um pensamento científico, com algo que traga realmente uma solução.
Então tem que ser baseado em solução de problemas, orientado pela demanda. Esse é um ponto muito importante para quem quer empreender hoje: olhar bem a demanda [do elo do mercado] e entender o que o mercado está de fato precisando para construir valor, e para construir margem para o usuário da inovação, da tecnologia e do próprio serviço, do consultor, do professor, do profissional.
Então eu vejo que tem três mensagens muito importantes aqui: a primeira mensagem é que nós temos que fazer o que o mercado está precisando, e não aquilo que nós sabemos fazer e achamos ou pressupomos que o mercado quer, ou seja, a orientados pela demanda; a segunda mensagem muito importante é que nós temos que construir margem, nós temos que construir valor para quem está usando os produtos, os serviços, as soluções que estão sendo ofertadas. Quem constrói valor para os outros permanece e cresce na atividade; e a terceira é sempre que possível criar oportunidades para as pessoas. Isso é o que define como você será lembrado!
Para conhecer um pouco mais do trabalho do Prof. Dr. Marcos Fava Neves, você pode encontrá-lo nas redes sociais (como no LinkedIn, Instagram ou no YouTube), ou acessando o site do Doutor Agro.
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