Continuando a série especial de entrevistas com pessoas que impactaram positivamente em nossa trajetória, hoje a IMBR Agro entrevistou o Sergio Marcus Barbosa (SMB), que além de nos aconselhar em muitos momentos de nossa jornada, nos abraçou dentro do ecossistema de inovação e empreendedorismo do agronegócio, e nos abriu diversas oportunidades dentro da ESALQTec, da qual somos associados e residentes.
Sergio é Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), e trabalhou como consultor de negócios desde o começo de sua carreira profissional. Atualmente, Sergio é Gerente Executivo da ESALQTec, a incubadora de soluções tecnológicas para o agronegócio da ESALQ/USP, cargo que ocupa desde a formação da instituição em 2005.
A entrevista foi conduzida por Hernan Angulo (HA), um dos founders da IMBR Agro.
HA: Sergio, em primeiro lugar, em nome da IMBR Agro, gostaria de parabenizar o aniversário de 15 anos da ESALQTec. Com a sua experiência atuando na incubadora, com diferentes startups, agentes de inovação e do mercado como um todo, e construindo o Agtech Valley em Piracicaba, promovendo o casamento de diferentes movimentos de inovação no agro, qual é a perspectiva para o futuro desse hub de inovação? Quais serão os desafios que você enxerga para os próximos anos e qual será o papel da ESALQTec nesse meio?
SMB: O futuro da ESALQTec dependerá de como a ESALQ vai trabalhar toda essa questão do seu ambiente de inovação e planejamento estratégico, tanto para a Fazenda do Areão [onde está localizada a sede da ESALQTec] quanto para o desenvolvimento de um futuro Parque Tecnológico dentro do campus. Nós ainda não temos esse cenário muito claro, mas, de qualquer forma, continuaremos a trabalhar, sempre olhando como podemos gerar valor externamente e internamente. Nós não temos uma estrutura física tão grande e luxuosa, mas temos uma presença muito consolidada à nível nacional, um nome que se tornou muito conceituado graças à qualidade das empresas que passaram pela incubadora.
Enfim, depende muito do que a ESALQ definirá como planejamento estratégico, e eu acredito que hoje os docentes da ESALQ estão olhando para isso, e estão se envolvendo cada vez mais.
O principal desafio que eu enxergo é realmente na questão da melhoria da infraestrutura da incubadora, pensando na nossa melhora interna. E o papel da ESALQTec eu acredito que continuará sendo trabalhar para seus principais objetivos: auxiliar para que o conhecimento científico se transforme em inovação; e atender às necessidades empreendedoras da nossa comunidade e ecossistema.
HA: A ESALQTec tem como objetivo incentivar e dar suporte para a criação de startups e pequenas empresas que atendam demandas do mercado, em especial do agronegócio brasileiro, com produtos e serviços baseados em novas tecnologias. Qual é o desafio mais recorrente que você percebeu nos projetos que fizeram parte da história da incubadora, e que foi um entrave para a entrada dessas novas tecnologias geradas no mercado? Você acredita que esse desafio ainda persistirá nos próximos anos?
SMB: Em relação ao desafio dos projetos que fizeram parte da nossa história, observando e convivendo come eles, eu vejo que o perfil da maioria dos nossos empreendedores é muito acadêmico, ou seja, eles são muito bons criando e desenvolvendo novas tecnologias em cima do conhecimento que eles têm. E por isso, eles também conseguem obter recursos públicos para o fomento de suas tecnologias, e nós também ajudamos a captar recursos privados, quando for o caso.
Agora, toda startup do agronegócio, eu entendo que o desafio é o tamanho da oportunidade. Nós estamos falando do agronegócio gigantesco do Brasil, com regiões enormes, com uma logística extremamente complexa [e disparidades regionais muito grandes]. Às vezes você mal consegue atender um cliente no Estado de São Paulo, então imagina um no Mato Grosso ou no MATOPIBA, por exemplo, com estrutura menos desenvolvida.
Então, com o desenvolvimento de ecossistemas que o Brasil tem, inclusive vejo que o país está muito bem servido de ecossistemas, cada vez mais será facilitada a validação das tecnologias. Porém, o acesso ao mercado ainda é uma coisa mais complexa pelo risco da inovação, e nós entendemos que esse risco é muito bem avaliado por empresas e por produtores rurais [antes de aderir à inovação], então tudo o que é novo ainda é muito desafiador de ser entregue ao consumidor final e a capacidade de entrega das startups também é muito questionada por serem pequenas empresas.
Por isso, estar nos hubs de inovação e hubs corporativos facilita esse processo também. Facilita porque eles conseguem dar esse acesso, dar esse suporte, e principalmente no processo de venda das soluções, que por muitas vezes, grandes empresas não estão prontas para adquirir um produto ou serviço de uma startup. Esse é um amadurecimento que está ocorrendo nos últimos anos e ainda requer uma certa paciência até que isso se resolva. Acredito que numa visão mais ou menos otimista, no médio prazo essa situação estará melhor no Brasil, e também no resto do mundo.
HA: Normalmente, quando as pessoas falam de inovação para o agronegócio, é fácil associar a imagem de inovações sendo projetadas e construídas para a realidade dentro da porteira, como tecnologias de agricultura de precisão, máquinas e implementos agrícolas e afins. Porém, sabemos que o agronegócio vai muito além do que é feito nas fazendas, e a própria incubadora já auxiliou diversas soluções que atuam nos diferentes elos do agronegócio, tanto dentro como fora da porteira.
Dentro da realidade da incubadora, como é lidar com toda essa gama de diferentes soluções para diferentes elos do mercado? E até pensando na realidade dos potenciais clientes da IMBR Agro, como o mercado financeiro se conecta na realidade da incubadora?
SMB: Em relação à inovação dentro do agronegócio, eu vejo que nós enxergamos e abraçamos os desafios dentro da porteira de forma muito competente. Eu penso que nós precisamos entender muito bem o conceito de cadeia produtiva e como os elos se integram, e a partir daí eu visualizo que a grande disrupção será o modelo de negócios que as agtechs terão que apresentar.
Nós temos que pensar em como fazer o produtor rural ganhar mais dinheiro ou como o produtor reduzirá seus custos. E isso envolve toda a cadeia produtiva, desde a compra de insumos, de novas tecnologias, toda a parte operacional [das fazendas], e também a questão de comercialização e agregação de valor.
Tudo isso terá que estar integrado, e aí o desafio será justamente integrar essas soluções. Então eu vejo uma oportunidade para empresas como a IMBR Agro, que é a gestão do risco, e como trabalhar a gestão do risco nessas etapas dos modelos de negócios que envolvem as cadeias produtivas como um todo. Não quer dizer que a startup vá trabalhar com toda a cadeia produtiva, mas o modelo de negócios tem que pensar de uma forma mais abrangente. E é claro que existe risco em todas as etapas do processo, e por isso existe uma grande oportunidade para uma AgFintech como vocês.
HA: E por último, Sergio, você que já avaliou, ajudou e aconselhou diferentes startups ao longo dos anos, e viu tanto projetos terem grande sucesso, quanto outros tantos falharem, qual é o conselho você deixaria para um jovem empreendedor, ou uma nova startup, que está começando a trabalhar dentro do agronegócio brasileiro?
SMB: Se eu tivesse que dar apenas um conselho, eu diria que uma empresa de sucesso tem que ter uma equipe muito boa e multidisciplinar. É muito difícil um empreendedor fazer tudo sozinho, e geralmente as empresas começam assim. Por exemplo a IMBR Agro começou muito bem por ter uma equipe trabalhando em todas as frentes, tanto empresarias quanto de pesquisa, com bons conceitos de gestão.
Então, se é para deixar um conselho eu diria para os empreendedores montarem uma boa equipe, ou se junte com gente que tem melhor competência em áreas que você não domina. Acredito que esse seja um diferencial entre empresas que dão certo e as que não dão certo.
Para conhecer um pouco mais do trabalho do Sergio Barbosa e da ESALQTec, você pode encontrá-los nas redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram e LinkedIn) ou no site institucional da incubadora.
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