por Lucas Magro Koren | 08/08/2023 | Artigos

Impactos da geolocalização na gestão de riscos agroclimáticos

A gestão de riscos agroclimáticos é tema mais complexo do que apenas uma análise municipal. Em outras palavras, por conta de características inerentes ao microclima de uma mesma cidade, a realidade dos riscos associados à agricultura pode variar, e muito. Por essa razão, dado o advento de tecnologias capazes de entender estas particularidades eficientemente, faz-se cada vez mais necessária a avaliação de riscos em escalas cada vez mais granulares.

Para ilustrar o que foi dito acima, a IMBR Agro apresenta neste artigo um compilado de sua tecnologia para o município de Barreiras, na Bahia. Para quem trabalha com agricultura, certamente já ouviu alguma coisa sobre essa localidade produzir muito bem em determinados lugares (“mais a oeste”) e menos em outros (“mais a leste”). Nesse caso, não teria oportunidade melhor para, não somente validar o senso comum, como também fomentar a gestão granular de riscos agroclimáticos.

O primeiro passo, então, é entender o clima neste município e, para isso, a IMBR Agro conta com um banco de dados bem parrudo, o qual possui dados históricos desde de 1979 para cerca de 71.000 grids[1] espalhados pela superfície nacional. Sendo assim, a realidade de um município, o de Barreiras/BA, é, na verdade, a realidade de 64 diferentes grids climáticos.

Este, em si, já é bom ponto de partida, ou seja, o fato de um único local possuir mais de 60 diferentes possíveis perfis climáticos já nos diz muita coisa. Porém, a exploração deve seguir, sendo que o próximo passo está em descobrir o potencial físico de manutenção hídrica nos solos de cada um destes grids. Para tal tarefa, a IMBR Agro se apoia no excelente trabalho desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a EMBRAPA.

Apesar de certa homogeneidade nos perfis de solo dos grids, tem-se mais um fator favorável à produção “mais a oeste”: solos com boa capacidade física de retenção hídrica. Esse fator de armazenamento ao ser associado com a fenologia da planta, de acordo com dados históricos simulados entre as safras 1979/80 e 2022/23, deriva na seguinte percepção agroclimática para cada um dos grids do município.

Nota-se que, a partir das diferenças acumuladas médias entre precipitação e evapotranspiração em cada um dos grids, existem muitos impactos sobre a agricultura no município de Barreiras/BA a depender de seu local de produção. Essas diferenças podem ser observadas através das simulações de produtividade para a soja que a IMBR Agro conduziu ao município.

Enquanto áreas mais a leste do município têm um potencial produtivo baixíssimo para a soja, cerca de 15 sacos/ha, áreas mais a oeste desfrutam de melhores condições agroclimáticas, podendo colher até 75 sacos/ha! Em outras palavras, num único município, há universos produtivos para a soja completamente opostos.

É claro que nem todos os municípios brasileiros se comportam como Barreiras/BA, que possui uma distância média de 177 km entre sua mínima e máxima longitude e 54 km entre sua latitude mínima e máxima. Entretanto, é importante destacar que o objetivo da IMBR Agro nesse artigo é provocar todos os stakeholders da agricultura e do agronegócio brasileiro.

Cientes da existência de tecnologias que viabilizem avaliações cada vez mais precisas sobre os riscos agroclimáticos de diversas áreas de produção, faz-se necessários as adotar, visando melhor gestão. Essa, por sua vez, potencializa a agricultura nacional e fomenta mais e mais tecnologias as quais permitem que nosso campo cumpra sua missão: alimentar o Brasil e o mundo.


[1] Grid é uma forma de se dividir uma extensão geográfica em uma malha, permitindo a estruturação em formato digital de dados geolocalizados.